E se o meu trabalho quando escravo fosse também poético e humano o meu salário solidário ao som de Beethoven que não grita mais E se não empilhasse mais não carregasse mais não suportasse mais e se eu tivesse planos de ser palhaço e astronauta como Freud em seu novo bambolê e se eu pudesse ter um novo cargo na nova sessão secretaria superintendência de assuntos corriqueiros e pequenas mentirinhas e que pagasse bem pra eu comprar petecas mexericas e lençóis novos tudo orgânico e furtacor e se não precisasse mais de compras coletivas depilação revelação peeling de pólvora e se eu pudesse ter um rosto talvez um corpo talvez dançar e não ter o que revistar registrar recomendar ter uma banda de acid jazz tragar um charuto cubano vivendo de china in box e não de work in progress e não decorar o novo acordo ortográfico decorar o velho hino nacional dos parnasianos eu poderia decorar a casa com flores artificiais e comestíveis se não tivesse que empilhar emendar entulhar poderia ler sobre a idade média e seus vícios ler uma biografia desgraçada sobre Sylvia Plath e Ted Huges coitado e ler sobre a física quântica enquanto faço a lótus invertida pudesse escrever de madrugada como um poeta insone e se tivesse fome dormiria porque comer dói.
sexta-feira, 10 de agosto de 2012
segunda-feira, 11 de junho de 2012
balada do porco-herói
Sequestraram a princesa!
menina rosa e diamante
ruas de pedrinhas de brilhantes
sem amor, sem dinamite
sequestraram a princesa!
morta há anos pela lei da selva
sem ninguém ouvir seu coração parar
forçaram seu riso, seu canto
dessa vez não tem sapo, não tem príncipe, menina
sobrou o ruído do porco, ecoando no corpo da realeza.
menina rosa e diamante
ruas de pedrinhas de brilhantes
sem amor, sem dinamite
sequestraram a princesa!
morta há anos pela lei da selva
sem ninguém ouvir seu coração parar
forçaram seu riso, seu canto
dessa vez não tem sapo, não tem príncipe, menina
sobrou o ruído do porco, ecoando no corpo da realeza.
quarta-feira, 23 de maio de 2012
O Abandono poético da menina
poesia é voar fora de aspas
quando a asa não sustenta o peso
poesia é voar dentro do corpo
assim não se deteriora o gesto
hoje estive sozinha demais
em silêncio demais
hoje meus poemas são pequenas redomas
remendos
espectros da poesia que vivi.
que me desculpe Manoel, mas poesia é voar dentro.
quinta-feira, 12 de abril de 2012
Pour petite julie
julie é a menina que deitou os ovos no prato
juntou as cores pra guardar no bolso furado
julie é a menina que encurtou cabelo pra dentro
e aumentou de tamanho o rasgo do dente da frente
hoje ela dança balé mesmo sem saber voar sentada
as vezes distrai um sorriso calado, tímido
tem uma voz de algodão agridoce
e grita pra espantar a amargura dos espinafres da vida,
das rúculas angustiadas de tanto verde.
[julie é uma dessas crianças que nascem poetas e se distraem as vezes com betoneiras gigantes
mostrando pra gente a urgência das coisas em se tornarem brinquedos.]
juntou as cores pra guardar no bolso furado
julie é a menina que encurtou cabelo pra dentro
e aumentou de tamanho o rasgo do dente da frente
hoje ela dança balé mesmo sem saber voar sentada
as vezes distrai um sorriso calado, tímido
tem uma voz de algodão agridoce
e grita pra espantar a amargura dos espinafres da vida,
das rúculas angustiadas de tanto verde.
[julie é uma dessas crianças que nascem poetas e se distraem as vezes com betoneiras gigantes
mostrando pra gente a urgência das coisas em se tornarem brinquedos.]
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012
aqueles dois (exercício para um poema deitado)
aqueles dois entre gavetas duas gaivotas adoecidas duas paisagens cor de mel aqueles das teclas soltas no tempo confinados no tempo das camisas e gravatas endireitadas de suor sublimado do desejo de suar mais um pouquinho dois homens e vinis entre violões mudos corpos mudos borbulhantes de sublimação entre os anos de digitais e contabilidades infiéis aos números menos imaginários e naturais aqueles conjuntos vazios de poesia e de asas do poeta que fazem rastejar o que era pra ser dançado então vem o mofo das relações burocráticas e corrói aqueles dois corpos-gaivotas rastejantes de não poder voar dançar no quadrado cinza das gavetas dos arquivos públicos privados de poesia e de cor.
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