quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Dentro.

Tenho medo do dentro
do bem-guardado
que cheira mal.
Do dentro imóvel:
discreto-secreto-concreto
que não faz força
não tem vontade.

Não vejo o dentro
não toco o dentro
não mordo.

Das caixas
das casas
dos cofres
das cores
dos dias
o dentro.

Dentro não se sonha.

Antônio

Em seu chapéu de rugas
todas a manhãs maiores
todas a poeiras cantadas.

Em seu sol encardido de suor
da lavoura, do vapor:
o soar das vacas
dos ventos
e vultos de causos.

Ainda tenho medo do seu teto, Senhor.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

E cantam os versos
dos poetas de raízes de prédios
de marquises úmidas
em voz de pingos castrados do chão.
E cantam os versos ácidos e desafinados
roucos do grito implodido
nas esquinas das sílabas,
flutuantes sílabas.
Quando sai a noite
não se vende:
fantasia pecados.
Provoca, excita.
Não se vende.
E diz muda de tons:
- Violenta-me.
Volta pra casa,
mãos postas:
cansadas de Ave Maria.
Sangue feito de fogo
de fugas da paz.
Sangue-castigo
Pensonagem no corpo
Fervente de guerras.
Sou feita de rubro
rugas e aspas;
meu sangue é latino.
Fervo.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Ouro Preto.

Aqui na terra do sempre
do tempo que venta parado
da juventude mofada e intelectual:

viverei-mofarei-morrerei.

Cidade das cores
janelas
e pedras.

Do ouro? Nem o cheiro.
Do preto? a dor dos dias,
o sangue-suor
e algum perdão.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Pano-de-chita na mesa, cabelo num fio de feijão e cheiro de biscoito mofado. A casa.
Maria Flor lê jornal da semana de ontem, pra esquecer do futuro que nunca vem.
Lhe disseram que Minas é mais que amarelo-e-mofo, é estrada deitada de morros, azuis colados de cima, mas a diferença não se fez.- se afoga no solo anêmico do teclado terminal na vitrola, na poeira.
Maria Flor é feito sangue fingido que desce pro ralo.
Meninamoça que tempera a cozinha cheia de cheiros, mulher.
Já dançou escondida do espelho, que só faz dedar a vergonha de ser.
É nua, é crua dos sonhos próprios que mastiga.
A verdade é que me apaixonei dos dias por Maria Flor, a verdade é amor, talvez só pra rimar.