quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

boca de ouro

o herói das gentes
carrega na boca o poema
da mocidade perdida
boca de ouro
sang'latino
como cão.

o herói das gentes
se curupira de verd'amarelo
samba a ferida de pé


o herói se macunaíma para o mundo
e desmunda tudo pelo lábio da mão



Soy loco por ti América
soy loco por ti mundocão.

Une chaise rouge


Uma cadeira vermelha
sentada na beira de mim
enxerga com veias
o subsolo da pele
a cadeira beira o movimento
mas silencia o passo


(,)
quieta estanca suas unhas sobre o chão.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Alice Maravilha

Alice da cidade maravilha
menina veneno
do mundo pequeno
seus braços estão abertos demais.

Alice maravilha
menina do morro
da toca
do vento
do sonho de vento.

Alice maravilha, teu terreiro, teu delírio.
Alucina-me.

Me desfaço dos aplausos
das luzes e da ação

a voz
a maquiagem
o texto escorreu 

e o artista da fome morreu de tédio.
Sentada na cidade
percorro seu corpo
suas curvas
sua pele cinza, dura.
Cidade que escorre
concreta de ser.
Células mortas
pela calçada
flutuantes delírios.
Escuto de longe a sua dor
preencho de asfalto seus poros abertos.

Como criar para si a cidade sem órgãos?
Da barriga pouco prenha
nasceu Maria Flor:
pequena de corpo
não fazia tamanho

Quando nasceu Maria Flor
não respirei sete dias
sete noites não comi
esqueci o sonho

Nasceu sem choro
mergulhou no mundo torto
deu de cara no chão:

Maria Flor ainda não sabia voar.