terça-feira, 16 de dezembro de 2014



queria te dar todas as coisas que ainda existem
te encher de coisas
soterrar, entalar, te afundar em coisas
como existem coisas!

queria te enterrar em coisas
fechadas, sem uso, sem cheiro
coisas limpinhas sem poeira

intocáveis

queria te dar todas as coisas
visíveis, de plástico, os saltos, as roupas
todas as roupas em sua nuca
todos os saltos em sua boca

queria te entranhar em coisas
lisinhas, durinhas, sem gosto
coisas que não se pode comer de tão coisas

intragáveis


pra você deixar o vazio soar
pra você sentir saudades de respirar
pra você sentir fora da coisa

sábado, 22 de fevereiro de 2014

é sempre sobre o sentimento do mundo

é preciso rir até o esbugalhar dos olhos que de tão aflitos se interessam mais pela crueza do grito
é preciso rir até que a boca permaneça sempre aberta para que o mundo entre e nos encontre ainda vivos]
eu preciso rir um pouco além do corpo porque não me basta mais nem as duas mãos nem o sentimento do mundo

é preciso correr até que as pernas se abram frente a qualquer abismo que apareça - sem medo - e de tão abertas possam saltar qualquer fronteira
alcançar até mesmo o mais rápido dos covardes
eu preciso correr porque as vezes dançar é poético demais e o corpo não aguenta menos barbárie

é preciso rir até que as pernas se abram com ternura arejando os órgãos mais tímidos
é preciso rir dançar correr até que os órgãos mais tímidos percam o fôlego o contorno a ciência
eu preciso rir dançar correr pra perceber que a pele é  fronteira frágil e pouca - não é vidro - que o outro sempre o outro não existe só existe assim